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sexta-feira, novembro 25, 2005 

Hoje é dia de conto...

eis o último que li:

“A camisa do homem feliz

Um rei tinha um filho único e queria-lhe tanto como à luz dos seus olhos. Mas este príncipe estava sempre infeliz. Passava dias inteiros à varanda, a olhar para longe.
─ O que te falta? ─ perguntava-lhe o rei ─ O que tens?
─ Não sei, meu pai, nem eu sei.
─ Estás apaixonado? Se queres uma rapariga qualquer diz-mo, e caso-te com ela, seja ela a filha do rei mais poderoso da terra ou a mais pobre das camponesas!
─ Não pai, não estou apaixonado.
E o rei a experimentar todas as maneiras de distraí-lo! Teatros, bailes, músicas, cantares; mas nada servia, e do rosto do príncipe de dia para dia desapareciam as cores rosadas.
O rei mandou publicar um édito, e de todas as partes do mundo veio a gente mais instruída: filósofos, doutores e professores. Mostrou-lhes o príncipe e pediu conselho. Eles retiraram-se para pensar, depois voltaram ao rei.
─ Majestade, pensámos, e lemos as estrelas; eis o que deveis fazer.
Procurai um homem que seja feliz, mas feliz em tudo e por tudo, e trocai a camisa do vosso filho pela dele. (...)

O rei encontra um homem feliz...

(...) “ Finalmente um homem feliz!”, pensou o rei.
─ Jovem, ouve: tens de fazer-me um favor.
─ Se puder, de todo o coração, Majestade.
─ Espera um momento. ─ E o rei, que não cabia em si de contente, corre para junto do seu séquito: ─ Vinde! Vinde! O meu filho está salvo! O meu filho está salvo! ─ diz. E leva-os até àquele jovem. ─ Bendito jovem ─ diz ─, dar-te-ei tudo o que quiseres! Mas dá-me, dá-me...
─ O quê, Majestade?
─ O meu filho está a morrer! Só tu podes salvá-lo. Anda cá, espera!
─ E agarra-o, começa a desabotoar-lhe o casaco. De repente pára, e deixa cair os braços.
O homem feliz não tinha camisa.”

(as letras a verde são minhas)

Fábulas e Contos, Ítalo Calvino, Volume I, tradução de José Colaço Barreiros, Editorial Teorema, Agosto de 2000, pag.184 a 185.

Que lindo!
E, sim, os homens felizes não têm camisa!
Não?

Sim. Diria mesmo mais: há homens felizes porque já deram a sua camisa e ficaram à flor da pele.

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