Porque existe II
É contou a mãe, é uma, duas e três vezes mágico. É a história de um sapo andarilho que aparece na caixa do correio... mistério, como era possível?
E a história continuou, o sapo é verde, existe mesmo, é giro, sabe coachar, lê o jornal e conta as notícias aos amigos que têm a vista cansada, ou que ainda não sabem decifrar aquelas complicadas frases e imagens, destinadas a informar, ou como diria o pequena tartaruga que vivia num grande aquário, destinadas a deformar... quando nos sentamos em cima do jornal...
Maria começou a ficar curiosa, a curiosidade saía-lhe pelos poros, estava no agitar de mãos, no brilho dos olhos, na ponta dos pés, tomados de uma vida própria, agitados e com manifestações de comichão. Ó Anita, é mesmo um mistério, ele vivia na caixa do correio?
Sim.
...O sapo tinha-se apropriado da caixa, quase sempre vazia. Ora vejam lá, o animal entrou, um dia à noite, de forma decidida e instalou-se. Saía, de vez em quando, para procurar insectos. Mas regressava sempre. Quando chegava alguma carta, colocava-se bem no fundo da caixa, colado às suas paredes e mantinha-se em silêncio. Quando o carteiro partia, e, antes que alguém viesse em busca de notícias frescas, o sapo lia todos os nomes, via os selos e sentia o toque do papel. Depois, à noite, o sapo, já detentor de mil histórias que intuía conversava com os outros animais habitantes da casa, a galinha Vermelha e o pássaro Tonto Mil Asas.
E quem vivia nessa casa Anita? Nessa casa vivia uma menina, a Ana, dona de uma ruiva cabeleira e de uns olhos sonhadores. Era a Ana Casinhas. Maria ficou pensativa e perguntou, Casinhas, porquê? Isso é nome ou é uma casa de brincar?
É nome sim, acrescentou prontamente a mãe, a Ana desta história não vivia numa casa, vivia em várias casinhas, por isso lhe chamavam Casinhas.
Assim são as histórias, disse a Ana, o sapo da caixa do correio também ganhou nome, era o Sapo da Caixa do Correio. Mas o que fazia ele, insistiu Maria. Era um jogo? Não, retorquiu baixinho Ana. Era verdade. Ele gostava da caixa, pois esta era húmida, tinha musgo no interior e era um bom refúgio.
Humm, Maria fechou os olhos, ficou pensativa e disse: é como o meu quarto. O meu quarto é quente, tem bonecos, tem livros, tem música, tem-te a ti, tem o pai. O sapo vive sozinho?
Pois, Ana acrescentou apressadamente, tu até podes ter razão, mas para o sapo a humidade é boa, o musgo é uma delícia, como, como... As palavras de repente faltaram-lhe. Maria sussurrou, como o bolo de bolacha da avó? Maria já nem ouviu a resposta afirmativa da mãe, o sono chegou e a menina adormeceu. Ana deu a história como acabada.
Pé ante pé, devagarinho Ana saiu do quarto e sorriu, diacho da miúda, estava a crescer, já contava histórias. Fechou a porta do quarto da menina e entrou no quarto do lado. Antes de adormecer quase juraria ter ouvido um coachar, mas isso era seguramente imaginação sua, desde quando existem sapos na caixa do correio?
Lá fora um sapo muito grande, com pintas de cor indefinida nas pernas coaxava mesmo, contava a história da Ana do Sapo aos outros bichos...