Palavra-semente
Como semente a palavra nem sempre frutifica, até porque nem todas estão à mão de semear.
Mas há palavras que se associam e ficam guardadas na nossa memória.
Assim é com: todos os dias tocamos em flores, frase do poeta Sebastião da Gama (o seu Diário ofereci-o, é um livro feito para ser dado). No entanto, a frase, lembra-me sempre como são necessárias flores na vida...
Vou rever daqui a pouco Une partie de Campagne, filme de Jean Renoir, há muito guardado na minha memória. Lembro-me do som, do baloiço que distrai, da passagem de jovens, de raparigas, que atraem o olhar de um noviço... e que olhar!
Lembro especialmente um grande plano de um beijo, estávamos em 1936(?), mesmo em França era ousadia mostrar -em grande plano- um beijo entre dois amantes... isto sem quebrar o secretismo do momento. Jean Renoir, com a sua mestria, enquadra(-nos) perfeitamente o beijo na vegetação, com o rio perto e com a possibilidade dos amantes de um dia... serem descobertos.
A frase do poeta e as imagens do cineasta são asas para a alma, passageira sem veículo.
Ambos me lembram que algures existem almas-agricultor, porque os Seres podem ser transportados até a um Tempo marcado pelo ritmo de sementeiras, de mãos que desbastam, tratam, semeiam, regam e esperam.
A frase do poeta e as imagens do cineasta são asas para a alma, passageira sem veículo.
Ambos me lembram que algures existem almas-agricultor, porque os Seres podem ser transportados até a um Tempo marcado pelo ritmo de sementeiras, de mãos que desbastam, tratam, semeiam, regam e esperam.
O que semeiam? Talvez imagens, palavras, sementes...
Às vezes é preciso um compasso de espera, quanto mais não seja para deixar pousar imagens familiares, juntamente com novas descobertas.
No afunilamento dos dias o Tempo corre. A magia da partilha e da comunicação acontece, materializa-se nos sons, no silêncio... em tudo o que temos capacidade de sentir.
No afunilamento dos dias o Tempo corre. A magia da partilha e da comunicação acontece, materializa-se nos sons, no silêncio... em tudo o que temos capacidade de sentir.
E sim, há que dizê-lo: acredito também na palavra enquanto semente. Gosto de pegar num ditado e perguntar alterando-o: há semente pior de pegar do que a da língua?
pois é...passeio ao campo para mim pode ser a ida a casa de um amigo: tem frescura tem natureza tem bons ares tem bons cheiros - na cozinha - e com alguma sorte boa é a paisagem...reconforta-me e é por vezes a unica saída...mas a melhor
fseverino
Posted by Anónimo | 8:54 da tarde
Acreditar na palavra enquanto semente é o único caminho para quem acredita nas palavras...
(Por que não me lembraste que era hoje o filme?)
Posted by Anónimo | 12:29 da manhã