sábado, dezembro 31, 2005 

Último dia aos amigos, aos que acontecem, aos que não esquecem, aos que aparecem, aos que...

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...


Vinicius de Morais in Poesia Completa e Prosa

sexta-feira, dezembro 30, 2005 


Fale quando as suas palavras sejam tão suaves como o silêncio...

Autor desconhecido

quinta-feira, dezembro 29, 2005 

Os eucaliptos estão floridos



Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem.
Susana Tamaro, Vai Aonde te Leva o Coração
Sei que esta árvore, por ser de crescimento rápido e dar lucro, invadiu os nossos solos, em detrimento de outras árvores. A escolha não é da árvore que continua a ser árvore e multiplica-se facilmente.
Gosto naturalmente dela, do seu cheiro, da sua altivez e beleza. Mas a ausência, nestes campos fora, de outras árvores que crescem mais lentamente dá que pensar...

quarta-feira, dezembro 28, 2005 




Que saudades tenho de quem, com um rosto curtido pelo tempo, verdadeiro mapa com rugosidades de tom escurecido pelo sol e pelo vento, dava serralhas aos coelhos.


Agora, num rasgo de cimento e lajes, surge uma serralha clandestina... há quem lhe chame erva daninha (a alastrar ?).
Fico feliz por ela ali estar, florida e por me fazer sentir a memória.



 

Poder voltar aos locais encantados aconteceu e é muito bom...
As rosas da minha mãe são lindas, têm história pois foram cuidadas, ocupam o céu quando olhamos para cima.



Lavar os olhos neste mar cheio de espuma, na rebentação das ondas.
Ter este céu a correr, levando nuvens cor de sonho.
Espreitar por entre as canas, que ainda existem (contarão segredos?) e reencontrar a paisagem: mar com Palheirão antes da linha do horizonte!


terça-feira, dezembro 27, 2005 

Recuperemos calmamente... os olhos também comem.
Hoje é dia de ser onda e mergulhar num mar, bêbado de canela.
Os sentidos despertam nos abraços das conversas.





Faz ou não muita falta uma flor que cintila na chuva, perfuma no escuro e faz crescer o silêncio em nós?
Há gestos, passos e distâncias que não ignoram afectos. E
um fogo que arde sem se ver também necessita de ser tocado pelos olhares que nos banham, porque perfumam no escuro, partilham e crescem na magia da comunicação.

sábado, dezembro 24, 2005 

É bem verdade, nem sempre o que parece é.

Acredito que há palavras e presenças que fumegam em nós,
que existem frases que não questionam.
Atrevo-me a acrescentar: os sabores inesquecíveis são, por vezes, inesperados!

Nas palavras de Cunningham o inesperado espreita.
Ele surge anunciado num não saíu bem , no de qualquer modo,
no mais ou menos da mesma maneira, nas prendas... apreciadas...






O seu bolo pode não ter saído bem, mas ela é amada, de qualquer modo. É amada, pensa, mais ou menos da mesma maneira que as suas prendas serão apreciadas: porque foram dadas com boa intenção, porque existem, porque fazem parte de um mundo em que uma pessoa quer o que recebe.

As Horas, Michael Cunningham



sexta-feira, dezembro 23, 2005 

É preciso lembrar os Poetas, porque escrevem assim...
Eis um poema de que gosto muito, il est temps d' échanger des plaisirs...


Do indizível - Pequenas coisas

Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.

Albano Martins


 

Dizer do dia.


Dos ingredientes vitais para viver, crescer e alcançar harmonia, sublinho a necessidade de paz e de amor.

Sinceramente... se por coincidência apanhou uma grande desilusão aqui fica, a dobrar, o desejo de um Feliz Natal e que o Ano Novo lhe traga alegrias esperadas e inesperadas.
Fica também a lembrança do terceto Amar, de Florbela Espanca:


E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

terça-feira, dezembro 20, 2005 

Entrei, subi por um elevador disfarçado com uma espécie de trompe-oeil. Já num outro piso segui o mar de gente e comprámos bilhetes para o cinema. Faltava uma hora para começar o filme, naturalmente um café quente com bolos foi o caminho seguido, na parede do café muitas eram as indicações sobre chás, cafés e suas propriedades. O olhar atento dos meus companheiros de cinema suplicou-me que não me atrevesse a tirar fotografias... Contive-me à espera de sair. Fora do café, dentro de um centro, por momentos acreditei estar debaixo de uma tenda...de circo.



No percurso entre o café e a entrada do cinema as surpresas sucediam-se.
Aparentemente agora há em todo o lado a necessidade de dar cor aos espaços, iluminá-los, dar-lhes um ar natalício. À beira de uma escada rolante esperava-nos uma espécie de presépio moderno, mistura de cores...

Encandeada com tanta luz refugiei-me numa casinha cheia de desenhos.

Muitos, não queria acreditar.

Pedi rapidamente ao Pai Natal para me enviar depressa para uma escola, para poder aprender a aprender... Os meus passos levaram-me até uma nova casa-aquário...


Com ar de peixe fora de água nadei até à entrada do cinema.

Afinal... seria apenas uma sensação?

Onde estávamos?

Era a entrada de um cinema ou de um circo?
Tinha passado uma hora, as luzes na sala apagaram-se e fez-se silêncio... que se vai ver um filme!

 

Circo

Curva e contra-curva com circo glaciário...

Tudo porque andamos por muitos locais, às voltas, e, por vezes, a vida contorce-se em curvas, pára, abranda e/ou retoma o andamento de um lado para o outro.
A foto do post anterior foi tirada numa viagem, pelas montanhas, num ritmo acelerado, 5 ou 6 mil km em cinco dias. Porque os olhos necessitavam de voltar a ver o branco da neve e um outro País. Poder partilhá-lo com mais 4 olhos foi uma bênção.
Quanto à palavra circo, sempre gostei de circo, do outro, que tem palhaços, corda bamba, acrobatas, música, risos e gente. E no Natal costuma haver circo, com muitas cores. E há nomes que nos sussurram ao ouvido músicas inesperadas, as suas associações voam na memória até tempos ainda mais remotos, sem perder de vista o Presente. Gosto deste circo glaciário. Muito. O gelo conserva, a neve encaixa-se no circo naturalmente aconchegante.
E o(s) circo(s) têm natureza humana e têm Mão de um Arquitecto chamado Tempo.
De longe observo a foto e lembro-me da neve, branca que quase nos cegava. Lembro-me que a natureza brilha e mostra espectáculos naturalmente emocionantes e silenciosos, como a Paz de que necessitamos tanto, todos os dias.

segunda-feira, dezembro 19, 2005 

Curva e contra-curva com fundo de circo glaciário

domingo, dezembro 18, 2005 






Aparentemente escaparam algumas letras, por cima das grades e apareceram do lado de fora do verde.
A árvore subiu, num crescimento silencioso, velando pelos arbustos, sem alarde, e guardou um i para libertar num grito, bem de mansinho, quando o ponto estivesse pronto.

sábado, dezembro 17, 2005 

... eu avisei... olha as lentes...

 

Recuar para tomar balanço, correr desenfreadamente, suster a respiração e saltar sem hesitação para dentro de uma página. Que seja ela a confidente desta noite!
Pois...vejamos o dia de ontem e seus momentos altos. Reconheço que apesar das deslocações para tratar de burro(cracias), numa correria entre Lisboa e Cascais, foi um dia muito pouco condimentado... mea culpa, muita mea culpa. Percorri blogs amigos e de amigos, com tempo para alguns comentários e para pesquisas, por assim dizer, alimentícias/gastronómicas. Eis um gosto ainda não blogalmente abordado. Não não se trata de receitas, se bem que estas sejam importantes, nem que seja para adulterá-las, partilhá-las e fazer experiências novas, trata-se sim do que circula acerca e à volta da alimentação, com suas implicações sociológicas, antropológicas e mais ógicas. Este blog faz-se e não se faz, considera momentos, sem pretensões à perfeição, é humano, muito humano. Muitas pessoas, temas, vidas estão latentes, à espreita para, talvez, surgirem, porque à beira das minhas mãos estão muitas folhas por preencher.



(The chocolate room Photo by Peter Mountain)

Momento da noite foi o filme Charlie e a Fábrica de Chocolate, escancarada, com cenários comestíveis e crianças a representarem serem crianças, a gostarem ou não de chocolate, com seres a passarem pela fábrica e a saírem ligeiramente modificados ou reafirmados nas suas escolhas e carinhos. É uma visão retocada de uma versão antiga. É menos musical e muito visual. O cinema é sempre mágico. E o chocolate? Disseram-me que não há chocolate mau, apenas há bom e muito bom. Gostei da frase, embora tenha gosto por chocolates sem adjectivos. Quanto aos filmes, há neles muitos ingredientes, quem os vê sente-lhe o gosto e os rostos no ecrã deixam rasto na memória, bom ou mau...indiferente...



E porque adio o momento de me deitar? Será talvez para não sonhar. Esta semana acordei em sobressalto e o apelo do cheiro a lençóis lavados deixou-me imóvel, preferi ficar ao frio a ler ao computador e a tentar não escrever. Será porque é Natal? − É porque neste Natal me falta de novo o mais importante e não me apetece sonhar outra vez com a ausência. Sabem o que é isso? Mesmo? Então era bom que não soubessem e não vale a pena mais comentários. Nesta vida a morte deixa rastos que não nos elevam até aos píncaros da poesia ou da prosa. E por aqui me fico à espera de poder saltar, ignorando os riscos de um pulo no escuro da noite, para dentro dos lençóis com cheiro a canela.

sexta-feira, dezembro 16, 2005 

Encontraste uma lua cheia e um pouco de areia.

Lança-as no foguetão da tua mão, na vertigem do desenho a carvão e no traço nu a fuligem.

Não pares de correr até o fôlego soluçar e o tom esvanecido pedir oxigénio aos olhos.

Cadência lenta sem juízo é aqui o paraíso dos perdidos e achados.

A música de final de tarde flutua na maré baixa e escorrega pelas pedras da praia grande.

Este mar que se juntou ao rio lava os grãos do corpo e deixa ficar o sal... arrasta o branco

do tempo que escorre pelo universo dos sentidos.

quinta-feira, dezembro 15, 2005 

Está um pai Natal no meu ambiente de trabalho, desde o mês de Novembro.
Hoje abri-o, olhei para ele, silencioso e imóvel, semi-nu, com cores acastanhadas, sob a prata vermelha e branca e sorri.
Sei quem deixou esse marco natalício no meu computador. É das pessoas mais importantes na minha vida. Nada de título nem de grau de parentesco para designar esse ser que deixou um pai Natal no meu computador! Teria que inventar um novo nome, até porque há nomes que ditos alto me soam a música que desafina... e se é certo que os desafinados também têm um coração...
Partilhámos muitas escolhas e confidências. Agora, pelas naturais contingências da vida, que nos vive e que nós pensamos viver, o nosso tempo não permite que partilhemos as pequenas coisas do quotidiano, que fazem e desfazem as vidas. Mas tenho pena, não há telemóvel nem email que seja fidedigno depositário de conversas, apesar de serem pequenas maravilhas para circular no tempo e no espaço.
Claro que tenho saudades de soltar o riso e dizer milhares de disparates, no meio de quotidianos muito sérios e contidos, de ouvir, de falar, de estar em silêncio e sentir-me bem, com esse ser de quem tenho muitas saudades.
E a prenda que lhe quero oferecer? É uma trapalhada...a poucos dias do Natal, falta-me um golpe de asa para terminá-la e estou em apuros. Sei que não deveria preocupar-me, no meio de tantos presentes que receberá não dará por nada, mas não consigo uma alternativa que me satisfaça.

quarta-feira, dezembro 14, 2005 


O amarelo foi a cor de que mais gostei em miúda, uma paixão... e valia tudo. Em nome do amarelo vestia roupas com cortes estranhos, os vestidos mais odiados e... sim... as saias mais rebuscadas tinham sinal amarelo e substituíam os calções e as calças de ganga.
Em nome do amarelo desenhava o Sol, seguido de um barco e de peixes do tamanho do barco.
Dizem que nascemos mais do que uma vez e que descobrimos aptidão para as mais diversas "artes", pelas quais nos apaixonamos, com as quais namoramos e vivemos um amor que é eterno enquanto dura. Ainda espero vir a nascer para...,por exemplo, desenhar, o que somente acontecerá daqui a imensos anos, noutra reencarnação, pelo andar da carruagem... até lá os peixes surgirão nos locais mais estranhos, com cores muito inadequadas e fugindo a tamanhos e linhas artísticas.
Agora, francamente...apesar do amor pelo amarelo forte, não aguentava mais ter um amarelo desmaiado, nas listas laterais do blog. Sim, após árdua e solitária luta, sinto-me melhor. Vamos ver o que acontece a seguir...


P.S.: hoje fui às compras e descobri um pijama amarelo (na foto) paguei, cheguei a casa vou lavá-lo e... verifico que as calças e o casaco do pijama são inseparáveis... devido a um objecto cinzento que prende o pijama. Penso que no dia seguinte vou ter de voltar ao hipermercado. Eis senão quando a Luísa decide ir buscar o martelo de campo e martela, inutilmente, a espécie de pulseira electrónica para pijamas... não resisti e pensei no amor que a Ministra da Educação tem demonstrado pelos professores, agarrei no martelo, apesar de saber tratar-se de algo tecnicamente impossível, e, martelei vigorosamente a pulseira, nada... amanhã devo comprar outro martelo, voltar ao supermercado ou telefonar para a DGHAE?

 

Quem disse?


Escolhemos viver... mas choramos ao respirarmos pela primeira vez...

Sei que distinguimos um cheiro, necessitamos de um afecto, de uma canção, de uma ilusão...

Parece que avançamos no mistério da vida, felizes ou não...

Não escolhemos nem esquecemos os amigos...

Há dias em que preferimos um chá vermelho, com sabor a Outono...

Observamos de perto um chocolate guardado num frasco e a cor castanho-pó e o seu apelo silenciosos espantam-nos....

Os dedos e os olhos seguem o rasto de pessoas, de paisagens, de livros, de filmes, de conversas, de encontros e de desencontros... e o ritmo cardíaco acelera-se ou contrai-se...

Não sei se tudo é efémero, não sei se há algo que seja para sempre, nem quero saber.

Quem disse: lá que há coisas que escolhemos e outras que nos escolhem... não discuto!

segunda-feira, dezembro 12, 2005 

A luta



Ele há pessoas que nunca mudam os móveis de lugar, para quem tudo está sempre no local exacto. Tal como os blogs, sempre com o mesmo fundo. Quero mudar o fundo do meu, em vez de barras laterais amarelas quero preto...mas os meus conhecimentos de informática são miseráveis, só encontro opções para mudar tudo! Dr. Bunsen, onde estás?
Então volto para a sala e olho com um desespero ainda maior para os móveis acomodados (apetece deitá-los fora para circular mais à vontade e colocar os que gosto)... mas sinto-me jovem para morrer já hoje...

Então nada... agarro num tapete e coloco-o perto do móvel que quero deslocar. Respiro fundo, muito profundamente. Avanço, com um esforço que segundos antes pensava ser impossível de executar, levanto uma ponta do móvel e coloco-o em cima do famoso tapete. Depois empurro com todas as forças, incluindo a dos gatos que se esforçam imenso. Ignoro o cansaço, a vontade de atirar o móvel e o tapete pela janela, afasto os gatos da janela...
Esforço-me mais e empurro o malfadado móvel até à outra ponta da sala. Admiro os riscos deixados no chão pela parte do móvel que ficou de fora do tapete, esqueço o chão... lembro-me que nesta casa os tapetes, que adoro, não entram, tal como a árvore de Natal, tal como os cortinados, tal como outras cores para as paredes, tal como etc... Parece que se deve aos três diabinhos muito amados, que encolhem as garras, mas demonstram todos os dias uma inata capacidade para destruir objectos. Lembro-me "que l'on peut meubler une vie avec des meubles mais pas la remplir"... Sorrio e olho para o sofá a desfazer-se... eles adoram e eu também...

 

Cá vai a tentativa de tradução

Às vezes basta uma frase, uma palavra, um sonho, independentemente dos seus traços e imagens.

Sonhas com voos vertiginosos, enfrentar medos e sobreviver ao tempo.
Queres novidades, histórias brilhantes, grupos de pessoas à volta.
Enches a vida e lanças-te, febrilmente, no vazio, aquele de que tens tanto medo, e o medo de não mais olhar – olhos nos olhos- é interessante.
Não te esqueças de amar. Esquece uma vida que não diz nada aos que têm sono, aos desaparecidos, aos viajantes. Choramos, quando a ausência bate... e então? As frases negaram-se, as lágrimas fazem traços na cara... festejemos.

O sonho não engana, o acordar é que faz tremer, com uma emoção desconhecida para os sentidos.
Fora da parede transparente que existe entre ti e o universo, o medo de falhar está cativo.

A arquitectura refaz o mundo com sorrisos a galope por entre as curvas das estradas.
Olha o mundo por detrás e sem o vidro; respira a vida, inala profundamente. Aquilo que sonhamos é feito de percursos, de passos numa tela já pintada, mas onde podemos de novo desenhar.
E o som dos passos debaixo da chuva e o cheiro das estrelas que escorregam fazem parte das nossas vidas.
A vida faz crescer as ervas, mesmo se é necessário cerrar os dentes.

domingo, dezembro 11, 2005 

Eh oui...


Parfois il suffit d’une phrase, d’un mot, d’un rêve, indépendamment de ses traits et images.

Tu rêves de vols vertigineux, d’affronter les peurs et de survivre au temps. Tu veux des nouveautés, des histoires brillantes, des groupes de gens autour. Tu remplis ta vie et te lances, fiévreusement, dans le vide, celui dont tu as tellement peur, et la peur de ne plus regarder dans les yeux est curieuse...
N'oublie pas d' aimer. Oublie une vie qui ne dit rien aux ensommeillés, aux disparus et aux voyageurs. On pleure, quant l’absence frappe... et alors? Les phrases se sont déniées, les larmes font des traits sur le visage... faisons la fête.

Le rêve ne trompe pas, c’est le réveil qui fait trembler, d’une émotion méconnue pour les sens.
En dehors du mur transparent qui existe entre toi et l’univers, la peur de l’échec est apprivoisée.

L’architecture refait le monde avec des sourires à galop, sous les virages des routes.
Regarde le monde derrière et sans la vitre; respire la vie, inhale à pleins poumons. Ce dont on rêve est fait de parcours, de pas dans une toile déjà peinte, mais où l’on peut dessiner à nouveau.
Et le son des pas sous la pluie et l’odeur des étoiles qui glissent font partie de nos vies.
La vie fait pousser les herbes, même s’il faut grincer les dents
.

 

Passeio

Passeio pelos arredores da Baixa

O Natal está lá, à porta, nas ruas, nas lojas, nas cores, nas fitas. Anda à solta pela cidade. E há dias em que fugimos para o meio da rua à procura do fumo das castanhas assadas, dos encontrões e da multidão que percorre todos os sentidos que as ruas têm.

Apanha-se o autocarro, apinhado de gente, como convém, desce-se algumas ruas antes do destino pretendido e olha-se para o Tejo, de frente. Depois volta-se a andar a pé, muito tempo, até os pés doerem e suplicarem às pernas para pararem. Para prolongar o passeio passa-se numa correria pela escada rolante do metro e sobem-se as ruas, até ao Largo Camões.

Depois, já pela noite dentro, entra-se no Bairro Alto. E há casas com muitas luzes que não são nem discotecas nem bares...E há bares com muitas luzes que fornecem comes e bebes para aguentar a noite.

Algumas horas antes nas ruas da Baixa as crianças traziam os olhos muito abertos, os adultos esbracejavam e carregavam embrulhos e sacos, muitos, para muita gente, no meio da gente.

Algumas horas mais tarde há filhos de adultos que passeiam e formam grupos, conversam, trocam impressões, marcam encontros... e riem-se muito, porque rir faz bem. E respira-se Natal, mesmo se nesta época se sente tremendamente a ausência daqueles que ainda habitam a memória, especialmente a de quem nos deu mais do que tudo: a vida.

sábado, dezembro 10, 2005 

Cheiro a viagem


É mesmo aquela altura em que se acendem luzes, se ouve a música circular pelas lojas.
Tenta-se adivinhar desejos amigos à espera de serem satisfeitos, faz-se prova de existência e de resistência...
...segue-se a magia, às vezes nos olhos dos outros, às vezes dentro dos sonhos partilhados, outras seguindo o que temos cá dentro.

Entrar de rompante num tempo e cumprir gostosamente o cerimonial de dar e receber - mesmo aqueles cujo maior prazer nesta vida é dar/receber sem marcação prévia - é permanecer acordado.

E à noite, pela cidade, há cansaços que já não podem sonhar, há tempo a escorrer, como grãos de areia, por entre os dedos. Há silêncios que são presságio de viagem. E há dias em que acompanhamos o nascer do Sol com óculos escuros.

sexta-feira, dezembro 09, 2005 

Andam



andam... a plantar árvores pela cidade...

 

A um clic daqui

Encontrei esta imagem. Fez-me lembrar versos:


A força dos meus sonhos é tão forte,

Que de tudo renasce a exaltação

e nunca as minhas mãos ficam vazias

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

O planeta novo

Acabei de chegar e ainda penso no planeta de que falamos, aquele onde chegamos num T.G.V. directo e que não custa setecentos e muitos mil euros...

Mas... esse planeta brilha tanto...quando no meio de muitos jogos, em muitas mãos, conversamos...
O gosto dos amigos nunca se esquece, mesmo se não partilhamos tudo... nem todos os dias, é um (e o) planeta incrível, para o qual nem necessitamos de T.G.V.... Quero lá voltar...

quinta-feira, dezembro 08, 2005 

Situações do quotidiano...

... ou questões politicamente corteses...

Actualmente tudo gira a uma velocidade alucinante, a não ser quando somos confrontados com o nosso tempo humano...
É certo... há pessoas que até têm tempo para perderem tempo, são de um movimento contrário ao de um mundo articulado pela pressa.
Admitamos... o tempo é algo de muito relativo e a pressa um movimento incessante que imprimimos aos nossos percursos, condicionados pelas prioridades que traçamos.
Continuando no círculo da velocidade. Ao frequentar um local público depressa se percebe a velocidade das transformações...
─ Imagine a seguinte situação, está num café, com dois amigos e a mesa que escolheu só tem duas cadeiras. Com ar desenvolto olha em seu redor e aproxima-se da mesa do lado. Pergunta: Esta cadeira está vazia?, indicando a cadeira vazia ao lado deste novo (des)conhecido. Não estranhará ouvir um não, não está...mas também aceitará um sim, está.
Sem saber acabou de colocar uma tremenda questão...passou uma fronteira, entre as duas mesas, num café partilhado... mas ultrapassou a fronteira da questão absurda e evidente (a cadeira está mesmo vazia). Fê-lo por necessidade e por delicadeza, porque a outra mesa é do outro e o outro é levado a equacionar, momentaneamente, uma ausência, mesmo se breve.
Agora imagine se coloca uma questão tipo... como está?... e ao fazê-lo quer mesmo saber a resposta...

domingo, dezembro 04, 2005 

Palavra.


Palavra lá é pessoa, com cheiro... gosto e desgosto. Pessoa tem presença e ausência, palavra também. Palavra tem sentidos. Pessoa... sentidos sente.
Palavra... Descansa num banco.
Lança-se ao vento, dentro de garrafa. Sussurra-se ao ouvido, dentro do corpo.
Escreve-se numa folha, numa árvore, na areia da praia, no saibro dos caminhos, numa pedra-fraga-vaga.
Desenha-se, insinua-se, é alta... quando gritada ouve-se... é baixa se murmurada?
Palavra toca, dança e foge para debaixo da língua, há e é. E não é e não há e é...ah.
Palavra toca à porta, é ninguém, corre, dói, no momento, no refrão, no assento, na alma, no chão.
E é ou não é... sonhadora, mastigadora, amassadora, odiada, indiferente? Será porque conta, percorre garganta, liquidificada, oxigenada, bombeada, invisível...sai pelas mãos... pelos olhos, pelos poros?
É talvez do contra ou a favor, é palavra sim, palavra não, tem alma gémea, descendentes ou ascendentes. Tem cores (palavra de honra) amores, dores?
E ofusca, incendeia, perde o juízo, ganha o Norte, segue a estrela? Alguém pode lê-la, fotografá-la, comê-la?
Palavra. Acalma.
Nem sempre palavra chora ou vai embora.
Palavra à frente ou atrás,
palavra é capaz.
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Hoje há de novo tempo para Fora das Mãos.